Quando Deus recita poemas

Desde o primeiro momento em que estive em comunhão com a energia deste atributo de Deus, senti uma afinidade especial com ele. Algo familiar, quente e pacífico envolveu-me a alma. No final, cheguei mesmo a dizer que "era como apaixonar-me por Deus".

Pouco tempo depois recebi um convite de um colega para me juntar a um grupo em que os que o formam têm como objectivo fazer da Poesia, da Beleza e do Amor os aspectos promovidos, com o objectivo de despertar a alma. Quando me juntei a esse grupo tive a sensação de que uma espessa cortina que cobria a minha alma estava a cair aos meus pés... Tinha-me esquecido que a poesia existia, tinha-me esquecido que ela tinha sido durante muito tempo alegria e alimento para a minha alma. E perguntei-me: qual é a alma destas pessoas que, nestes tempos conturbados, ainda vivem na Poesia? E a resposta veio de imediato: eles estão vivos!

Alguns dias depois, enquanto fazia o meu programa de prática espiritual, senti espontaneamente vontade de parar a execução da técnica de nauli kriya que estava a fazer na altura para uma breve tomada de consciência. Senti nessa tomada de consciência como toda a energia acumulada estava a sublimar para níveis mais elevados e, porque estava a trabalhar com o Atributo de Deus do Desapego de Deus nesse dia (tenho vindo a escolher um atributo para ressoar e aprofundar, por referência a ele, já há algum tempo, durante esse dia), desapeguei-me de qualquer desejo e entreguei-me completamente a essa experiência. A armadura do meu ego foi posta de lado e... entrei no mundo da Vida de Deus através da energia subtil e sublime do Atributo de Deus da Poesia de Deus!

Quando Deus fala poemas... Desejo partilhar convosco esta experiência vivida pela Graça de Deus, e peço-vos que perdoem a minha incapacidade de relatar esses momentos desta forma, porque ao longo de tudo o que vivi então foi através da contínua enunciação de poemas que a minha mente, o meu ser, não consegue agora reproduzir. Tentarei esboçar algumas imagens, fragmentos desse quadro cósmico.

Acredito que tive acesso a essas experiências como resultado de uma acumulação, na sequência da realização de várias técnicas e práticas meditativas de revelação da Verdade Suprema de Deus, da participação na Espiral Hiatus de 2017 (resultando na minha cura espontânea), na sequência da realização em várias ocasiões da técnica de kaya kalpa, cumulada também com a percepção da presença de Deus no trabalho com vários atributos de Deus.

Todas aquelas percepções profundas surgiram naquele plano e tudo o que se seguiria foi integrado a partir de uma perspectiva macrocósmica: ali estava o próprio Deus, enquanto eu olhava ao redor havia milhares e milhares de Universos, havia toda a Criação, tudo ao mesmo tempo, em simultaneidade. Não havia qualquer tipo de limitação - nem tempo, nem espaço - ou melhor, havia a eternidade, o infinito...

Existiam algumas energias da presença de Deus que eu podia perceber muito nitidamente e que sustentavam tudo continuamente: O Amor de Deus - que fazia tudo vibrar vivo, o Sorriso Enigmático de Deus - que revestia tudo, o Olhar de Deus (ou talvez fosse a Consciência de Deus, mas era assim que eu o percebia, como "olhar"), a Eternidade de Deus, o Infinito de Deus, a Simultaneidade de Deus, a Omnipresença de Deus, a Omnisciência de Deus...

O que poderia então fazer-me parte desta dança cósmica era a energia subtil e sublime do Atributo de Deus da Poesia de Deus.

Vou tentar expressar-me de uma forma plástica: essa vibração era como se nesse espaço do Todo aparecesse como uma "faixa" ondulante de energia que modulava de forma específica aquelas características e ali, naquela "faixa", naquela frequência de vibração, tudo o que era perceptível tinha essa marca da Poesia, tudo o que percebíamos como imagem, como estado, como compreensão, como toque, como experiência, como respiração, como... tudo, era vivenciado num poema, em versos divinamente inspirados que me apareciam no fluxo mais suave, com as palavras mais simples, que traziam em si os significados mais profundos!

Aqui, uma profunda compreensão espiritual, que o ser poderia adquirir talvez pela experiência ao longo de dezenas de vidas, "subia" ao nível da consciência, sendo sintetizada numa única palavra! Essa palavra, de facto, tornara-se agora como um símbolo que continha uma experiência (obviamente complexa e obtida ao longo do tempo, gradualmente).

Depois, a junção de duas palavras "correspondia" agora à compreensão de dois desses símbolos... e assim por diante, de modo que o profundo significado espiritual de uma linha de um tal poema podia ser "traduzido" (na nossa linguagem comum, humana) num pequeno livro. De facto, penso que este é um exemplo de quão profundo pode ser o conhecimento de um ser, dependendo do nível de consciência que tenha atingido.

Nessa energia da Poesia de Deus, aqueles sábios encontraram o êxtase da comunhão com Deus, que mais tarde foram capazes de colocar em palavras divinamente inspiradas o seu amor ardente e saudoso por Deus Pai e, de alguma forma, tornar-nos participantes desse Mistério Divino de comunhão com Ele. Quando essas palavras são realmente Dele, no caminho que percorreis em direcção a Ele, para serdes novamente um com Ele, os vossos passos são passos dados na Revelação do Eu através da consciência poeticamente expressa.

Voltando à minha própria experiência, essas experiências culminantes desta existência ganharam voz em Poemas que fluíam por si mesmos - mas não apenas sonoramente ou verbalmente, mas como um todo, como ver um filme: era som, cor, movimento, espaço, imagem após imagem. Eram "ditos por mim" mas eu era um "eu" que agora pertencia àquele espaço. Aquele poema existia porque eu o deixava brotar de mim! A beleza, a profundidade, a doçura desses poemas são indescritíveis em palavras! O que é que pode ser mais maravilhoso do que encontrar as palavras mais adequadas para falar com Deus? Ser capaz de Lhe dizer todo o desejo por Ele que existe dentro de nós!

Eu caminhava como uma estrada da direita para a esquerda, como se fosse de uma periferia para o centro, onde Ele estava. À medida que me aproximava cada vez mais do "centro", ia adquirindo uma compreensão cada vez mais profunda, havia muita paz e sossego, as palavras tornavam-se menos numerosas, até o êxtase assumia uma certa nuance. Parecia que compreendia sem palavras, era como um desprendimento/distanciamento de tudo e de todos. Já não estava "presa" a nada, mas continuava a seguir aquela "fita" da Poesia de Deus.

Sabia que era a Graça que estava a experimentar e queria saber como manter o contacto com Ele através daquele "fio de ouro" e como me ligar ao que existe a um nível micro. Perguntei: "Onde é que eu estou, Senhor? O que é que eu sou?" E foi então que vi como Ele "recortou" uma faixa do Macrocosmo e delineou um espaço que era, na verdade, uma galáxia inteira, com milhares e milhares de planetas e sóis! Era fascinante: estava cheio de vida, movia-se, estava vivo, em cores absolutamente deslumbrantes, com muitos tons, muitas intensidades de luz! Percepcionei as sublimes e subtis energias do Esplendor de Deus, da Grandeza de Deus, do Ritmo de Deus, da Omnipotência de Deus, da Maravilha de Deus, da Magia de Deus... Era uma área que parecia ser atravessada por raios de luz e que se assemelhava às cordas de um violoncelo.

Depois, Ele fez com que o Amor de Deus tocasse magicamente essas cordas e todo o espaço vibrou de uma forma espantosa! Não consigo encontrar palavras para expressar aquela realidade de Deus, criada naquele momento! Mas vi que de uma das "cordas" se desprendia um pequeno fio de pó. Aos "olhos" de Deus, aquela galáxia e aquele grão de pó (como tudo na sua Criação) tinham o mesmo significado e Ele infundiu-lhes o mesmo Amor! Compreendi que aquele grão de pó era eu e mergulhei nele, em mim mesma! Reconheci o meu corpo como um templo, ajoelhei-me em humildade e guardei sagradamente nas palmas da minha alma a centelha divina que Ele tinha plantado em mim.

"Volto ao templo na rocha
E nas palmas do meu coração eu te seguro como uma estrela
É Sagrado e o Mistério profundo na sua Luz
Estou à espera de nascer em mim,
Ser Pai e Mãe e Filho ao mesmo tempo!"

Abri os olhos, as lágrimas a escorrer pelo rosto... E hoje a emoção dessas experiências alegra a minha alma, grata pelas dádivas recebidas. Agora tudo é diferente... nos meus olhos se encontram Universos, na minha alma se eleva a canção das Estrelas, sonho com o "fio de ouro", vejo alegrias...

"Como pode ser, Senhor,
Com medo do sonho na noite
Agora quando sei que a minha pálpebra
ÉS TU!"

Obrigada, com gratidão, meu querido guia espiritual, Grieg.

M.M., grupo 24, Bucareste